O governo Lula se depara com um cenário político cada vez mais desafiador diante da tentativa de aprovar um novo pacote de aumento de impostos. Apesar de uma mudança de postura estratégica mais alinhada ao diálogo com o Congresso, o Palácio do Planalto encontra obstáculos sólidos entre parlamentares de diferentes espectros ideológicos. A recepção ao novo pacote não tem sido positiva, especialmente entre líderes do Centrão, que demonstram desconforto diante de propostas que mexem diretamente com a base produtiva e o setor de serviços. Essa conjuntura indica que o Executivo terá de negociar ponto a ponto para não ver mais uma derrota política em um ano decisivo para o seu projeto de governo.
Com a economia ainda em recuperação lenta e a população pressionada pelo custo de vida, as medidas que envolvem aumento de tributos tendem a gerar forte rejeição, inclusive entre os próprios aliados do governo. A percepção de que novas cargas podem comprometer a competitividade e desestimular investimentos torna o debate ainda mais delicado. O Executivo federal tem buscado apresentar o pacote como uma ferramenta de equilíbrio fiscal, mas muitos congressistas enxergam a iniciativa como inoportuna e desconectada das reais prioridades do país. Essa visão tem levado a uma resistência crescente nas comissões e nas bancadas temáticas.
Além da questão econômica, o ambiente político se mostra instável. O governo Lula, embora tenha conseguido vitórias importantes no início do mandato, tem enfrentado dificuldade crescente para manter uma base sólida de apoio no Congresso. Muitos parlamentares demonstram insatisfação com a distribuição de cargos e emendas, o que afeta diretamente a fidelidade nas votações. Sem um alinhamento firme, qualquer medida mais impopular encontra barreiras quase intransponíveis. Essa fragilidade compromete a capacidade do Executivo de avançar com reformas estruturais ou projetos fiscais de maior impacto.
Outro fator que complica a tramitação do novo pacote é a proximidade do calendário eleitoral. Muitos deputados e senadores já se articulam com vistas às eleições municipais, o que reduz o apetite por medidas impopulares que possam comprometer o apoio de suas bases eleitorais. A tendência é que qualquer proposta que envolva aumento de tributos seja adiada ou desidratada. O cálculo político passa a ser mais relevante do que a discussão técnica, tornando o processo legislativo ainda mais lento e imprevisível. O Planalto precisará lidar com esse componente se quiser aprovar ao menos parte de sua agenda fiscal.
A equipe econômica do governo Lula tentou contornar a resistência propondo contrapartidas e ajustes graduais, mas não conseguiu evitar a percepção de que há um esforço para ampliar a arrecadação sem, necessariamente, cortar gastos ou melhorar a eficiência da máquina pública. Essa narrativa ganhou força entre a oposição e tem sido usada como argumento para barrar o avanço das discussões. Mesmo figuras mais moderadas têm alertado sobre o risco de um pacote que, ao invés de estimular o crescimento, possa gerar retração econômica e aumento da informalidade, especialmente em setores mais sensíveis.
A relação entre o Executivo e o Legislativo também é afetada por tensões institucionais acumuladas ao longo do tempo. O governo Lula, embora tenha investido em reconstruir pontes com o Congresso após os desgastes do período anterior, ainda sofre com desconfianças. Essa herança política dificulta a construção de consensos, mesmo quando as propostas são tecnicamente defensáveis. No caso do novo pacote fiscal, essa falta de confiança se traduz em obstáculos adicionais à sua tramitação. Há um receio de que a aprovação represente um cheque em branco para o governo, o que impede maior adesão parlamentar.
Para contornar esses desafios, o Planalto poderá recorrer a estratégias tradicionais como relatoria aliada, liberação de emendas e articulações regionais, mas não há garantias de sucesso. A atual legislatura tem se mostrado mais independente e reativa a pressões verticais, o que exige do Executivo uma capacidade de articulação mais sofisticada e menos baseada em trocas diretas. A construção de uma narrativa convincente será essencial para mudar o clima político e viabilizar avanços. Caso contrário, o novo pacote corre o risco de se juntar à lista de propostas travadas no Congresso por falta de apoio.
Por fim, é evidente que o governo Lula enfrenta uma prova de fogo com a tentativa de emplacar um pacote de medidas fiscais em um ambiente adverso. O equilíbrio entre responsabilidade fiscal e sensibilidade social será determinante para o sucesso ou fracasso dessa empreitada. Sem apoio político consistente, capacidade de negociação ampliada e maior sintonia com as demandas do Legislativo, a proposta dificilmente avançará. O resultado poderá impactar não apenas a arrecadação, mas a governabilidade e a própria estabilidade econômica nos próximos anos.
Autor :Martin galvão