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O que se sabe sobre o caso da capivara ‘Filó’, criada por influencer multado pelo Ibama no AM

otto livrares galvão
By otto livrares galvão 10 Min Read

O episódio mais recente envolve a Justiça Federal, que determinou a guarda provisória do animal para o fazendeiro Agenor Tupinambá.

O caso da capivara “Filó”, criada pelo influencer Agenor Tupinambá, no Amazonas, continua repercutindo. O episódio mais recente envolve a Justiça Federal, que determinou a guarda provisória do animal ao tiktoker, após Agenor se multado pelo Ibama.

Quem é Agenor Tupinambá

Agenor Tupinambá tem 23 anos de idade. É fazendeiro e mora em uma fazenda em Autazes, cidade no interior do Amazonas que fica a 111 km de Manaus. Autazes é um município relativamente perto da capital, e o trajeto entre as cidades é feito por via fluvial.

O fazendeiro estuda agronomia em Manaus. Também é influencer e tiktoker e reúne milhões de seguidores, incluindo políticos e outras personalidades. No Instagram, ele oferece “parcerias”, uma prática comum entre influencers e marcas que pagam por publicidade de conteúdo.

No entanto, em nota, também publicada nas redes sociais, Agenor afirma que nunca lucrou com o uso dos animais. “Absolutamente nenhum vídeo com ela me trouxe qualquer resultado financeiro. Era apenas eu com um celular na mão, registrando a minha própria vida ribeirinha”, escreveu.

Nas redes sociais, o influencer se apresenta como figura pública. Hoje, com a repercussão do caso, possui assessoria de imprensa e assessoria jurídica.

Como fazendeiro, Agenor também participa de eventos ligados ao Agro. Um deles, que mostra cenas de maus tratos a um porco dentro de uma arena de rodeio, repercutiu nas redes sociais recentemente. Em resposta, Agenor disse que mudou. “Hoje minha visão é outra”, disse.

Como tudo começou

No início deste ano, Agenor Tupinambá viralizou nas redes sociais, ao mostrar a rotina com a capivara Filomena, chamada pela família de “Filó”. No dia 6 de fevereiro, o fazendeiro contou ao g1 como que a capivara tinha entrado na vida dele de maneira inesperada e “triste”.

De acordo com o tiktoker, um primo dele mora próximo a uma aldeia, onde indígenas capturaram uma capivara, que estava grávida. “Eles cortaram a barriga dela, a ‘Filó’ nasceu e conseguiu sobreviver. Os índios deram ela para o meu primo e ele me deu”, disse Agenor, na ocasião.

O influencer, que já possuía milhares de seguidores, conseguiu mais engajamento após a repercussão do caso na mídia, especialmente no tiktoker. Até esta segunda-feira (1º), tem 2,1 milhões de seguidores no Instagram.

Nas redes sociais, ele divulgava vídeos de “Filó” e de outros animais domésticos e silvestres.

Por que o Ibama multou o influencer

Em abril, dois meses após viralizar nas redes sociais, o influencer foi multado pelo Ibama em mais de R$ 17 mil.

O órgão ambiental aponta que há suspeita de abuso, maus-tratos e exploração animal. Ele também foi notificado a retirar todas as publicações feitas com os animais de seus perfis em plataformas digitais.

Repercussão nas redes sociais

No dia 18 de abril, depois de ser notificado pelo Ibama, Agenor usou as redes sociais para expor as multas. Em vídeo, ele chorou e contou que o órgão deu prazo de seis dias para a entrega da capivara aos fiscais de Manaus.

O caso repercutiu a chegou a políticos tanto do Amazonas como de outros estados do país. O assunto divide opiniões.

No dia 19 abril, depois da repercussão do caso, o Ibama se manifestou, em nota. Ao sustentar as multas, o órgão alertou que “animal silvestre não é pet”.

“Por mais que algumas pessoas queiram cuidar de animais silvestres, quando os encontram na natureza, é necessário entender que eles não são animais domésticos, como cães e gatos. Capivara e bicho-preguiça são animais silvestres. Criar ou manter esses animais em casa é proibido pela legislação brasileira”, disse em nota, na ocasião.

O órgão também informou que o caso da capivara chegou ao conhecimento do instituto após a morte de um bicho-preguiça que Agenor criava na fazenda. No local os agentes encontraram um papagaio e a capivara “Filó”, que não tinha autorização legal do fazendeiro.

A deputada estadual Joana Darc (União Brasil) está entre os que saíram em defesa de Agenor. Conhecida como “defensora dos animais”, a parlamentar passou a mobilizar mais pessoas.

No dia 20 de abril, a deputada entrou em um bate-boca com o deputado estadual Wilker Barreto (Cidadania), durante sessão na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam).

Joana Darc é a mulher que acompanhou Agenor na retirada da capivara do Ibama, após decisão judicial em favor do influencer.

No dia 25 de abril, ONGs de defesa dos animais e a ativista Luisa Mell, divulgaram um vídeo que mostra Agenor segurando um porco usado para um “pega do porco”, brincadeira em que diversas pessoas tentam agarrar o animal ao mesmo tempo. A postagem faz críticas ao fazendeiro.

“Por favor, não chamem ele de protetor de animais”, escreveu a ativista. “Se você acha isso bacana, cultural. Você está no lugar errado”, completou Luisa Mell, que apagou a postagem, depois de ser criticada.

Influencer entrega capivara ao Ibama

No dia 27 de abril, Agenor chegou a entregar a capivara ao Ibama. O animal foi transportado em um avião de Autazes até o aeroclube de Manaus, onde agentes do Ibama aguardavam. Agenor acompanhou a viagem com “Filó” nos braços.

O Ibama disse que sugeriu a soltura do animal nas proximidades de Autazes. Como a família de Agenor alertou que a capivara poderia ser alvo de caçadores, houve consenso de que o animal deveria ser transferido para o Centro de Triagem de Animais Silvestre (Cetas), em Manaus.

Decisão da justiça devolve capivara ao influencer

Depois de ser obrigado a entregar a capivara ao Ibama, Agenor Tupinambá recebeu ajuda jurídica para recorrer.

No sábado, 30 de abril, a Justiça Federal concedeu a guarda provisória da capivara ao influencer.

Na decisão, juiz Márcio André Lopes Cavalcante escreveu que Agenor “vive em perfeita e respeitosa simbiose com a floresta e com os animais ali existentes”.

A decisão diz ainda: “Não é a Filó que mora na casa do Agenor. É o autor que vive na floresta, como ocorre com outros milhares de ribeirinhos na Amazônia, realidade muito difícil de ser imaginada por moradores de outras localidades urbanas no Brasil”.

Ainda na noite de sábado, com a decisão em mãos, a deputada estadual Joana Darc, Agenor e outras pessoas chegaram a ir para a frente da sede do Ibama para tentar retirar o animal.

Na manhã de domingo, 29 de abril, eles conseguiram retirar a capivara da unidade do Ibama.

Onde a capivara está

Agora, a Capivara está com o influencer. Por decisão da Justiça Federal, ele tem a guarda provisória do animal.

O que o Ibama vai fazer agora

Nesta segunda-feira (1º), o Ibama reiterou que vai continuar tentando reintegrar a capivara à natureza. Em um vídeo publicado no Twitter, o analista Roberto Cabral, fiscal do órgão, afirmou que a decisão judicial que devolveu a capivara ao influencer prejudica o trabalho do instituto.

De acordo com o agente, o Centro de Triagem de Animais Silvestre (Cetas), em Manaus, é o início do trabalho que garante a reintrodução do animal na natureza.

“Nós lutaremos para que o melhor destino dela seja cumprido. E o destino dela é ser livre, mas realmente livre, realmente na mata, e com outros de sua espécie”, disse.

O que a lei diz ambiental

As multas do Ibama são baseadas na legislação brasileira. O órgão notificou o influencer com base no Decreto nº 6.514/2008, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998).

O artigo 33 destaca que é proibido “explorar ou fazer uso comercial de imagem de animal silvestre mantido irregularmente em cativeiro ou em situação de abuso ou maus-tratos”. Segundo o Ibama, Agenor foi multado por práticas relacionadas à exploração indevida de animais silvestres para a geração de conteúdo em redes sociais.

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